quinta-feira, 15 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Instrumentos alternativos de pesos e medidas utilizados por ribeirinhos da região do Baixo Amazonas no Estado do Pará

No final da idade da pedra os povos daquela época iniciaram um desenvolvimento mais intenso da agricultura e, com as modificações climáticas, procuravam o melhor local para se estabelecerem. Os locais procurados eram aqueles que ofereciam água e terra fértil favorecendo a ocupação das margens do dos rios como o que aconteceu no rio Nilo, localizado no Egito, na África.

Os agricultores organizaram-se social e politicamente e, para sobreviverem precisaram desenvolver padrões de medidas utilizando as tecnologias das quais dispunham para controlar as inundações e irrigações das terras agricultáveis.

A necessidade de plantio organizado proporcionou o surgimento de uma ciência pela necessidade de calendário agrícola que permitisse saber o tempo de plantar e o tempo de colher, de um sistema de pesos e medidas para dividir a terra e o produto da colheita entre os agricultores, de um método de agrimensura para viabilizar a contabilidade de impostos, de taxas mercantis.

As evidências dessas afirmações históricas constam nos papiros Moscou e Rhind, posto que do total de 110 problemas, vinte e seis deles são referentes a cálculo de área (das terras destinadas ao plantio) e de volume (dos grãos da colheita).

As unidades de medidas criadas eram para solucionar problemas locais, situacionais e, portanto, definidas arbitrariamente. Assim, eram utilizadas partes do corpo humano (medidas antropométricas) para o cálculo de medidas lineares, tais como o palmo, a polegada, a braça, o cúbito, o passo, o pé.

Zuin (2009) destaca em seus estudos trechos extraídos da bíblia – velho e novo testamento que revelam algumas das antigas medidas de comprimento de uso corrente entre os povos como o palmo, o palmo menor, a vara, o côvado, o passo, o estádio, a jornada de um dia, além de medidas de superfície, de massa, de capacidade para sólidos e líquidos ligados ao cultivo, produção, comércio, enfim necessidades da época.

Certamente, havia discordância quanto a esses sistemas de medidas nas práticas comerciais e de cobrança de taxas e impostos, uma vez que na Inglaterra, a unidade jarda (medida linear) era a distância do nariz até o polegar do rei Henrique I com o braço esticado, o que revela uma preocupação com a padronização da unidade de medida no século XII.

De fato, antigas unidades de medidas não foram por completo abandonadas haja vista que aparelhos televisores são vendidos utilizando-se a medida polegada (1 polegada=2,54 cm). Considere ainda que um pé correspondia a onze polegadas e meia. Hoje, a medida é doze polegadas, o tamanho médio dos pés masculinos (1 pé=12.2,54=30,48 cm). Essa medida é amplamente usada na aviação e em países como Reino Unido, Canadá e Estados Unidos da América. Ressaltamos que o metro é a unidade internacional do padrão de medidas.

Diante do exposto, procuramos identificar os Sistemas de Pesos e Medidas convencionados entre as populações tradicionais que habitam a região do Baixo Amazonas, no estado do Pará.

As populações ribeirinhas (caboclos descendentes de indígenas) utilizam maneiras próprias de resolver seus problemas relacionados a pesos e medidas por estarem distantes dos centros urbanos e disporem de pouco acesso a balanças e outros instrumentos oficiais de pesos e medidas.

Deste modo, convencionam socialmente seus sistemas próprios, particulares de pesos e medidas criados a partir da criatividade e da utilização de objetos conhecidos, que fazem parte de seu cotidiano e por isso mesmo aceitos naquele contexto em que vivem.

Assim, constatamos que o camarão pode ser vendido utilizando-se como unidade de medida um prato fundo – recipiente circular de material plástico, na cor azul, que consiste em um círculo de 22 cm de diâmetro, cuja maior profundidade mede 1,5 cm e a borda mede 3 cm. Esta iguaria – camarão ao bafo é vendida pelo custo de R$ 4,00 (quatro Reais).

De fato, este nos parece ser um criativo “jeitinho” de efetivar vendas de camarão ao bafo sem questionamentos pelo comprador quanto ao sistema de medida adotado pelo vendedor.

Encontramos em uma praia, uma situação de venda de camarão ao bafo por litro. O instrumento de medida consistia em um recipiente cilíndrico de alumínio com uma alça anexa com capacidade de 1 litro. O estranhamento se deu por sabermos que o crustáceo não se trata de um fluido e, portanto, considerando o padrão oficial de medidas deveria ser vendido por quilo. Enxergamos neste fato a criatividade dos ribeirinhos que na dificuldade de transportar uma balança para a praia, não hesitaram em destinar novos usos para os padrões de medidas internacionais que lhes parecem ser fáceis de portar, no ato da venda ao custo de R$ 8,00 (oito Reais) o litro.

Em ambos os casos os camarões eram colocados em um saco plástico transparente e entregue ao comprador.

Nessa mesma região, encontramos vendedores de peixes que utilizam a cambada como unidade de medida. A cambada consiste em cerca de cinco a seis peixes enfiados em um arco de arame ou corda, cada um medindo cerca de 40 cm a 55 cm de comprimento que juntos compõe cerca de 3,5 kg a 4, 2 kg. O preço é estimado considerando o tamanho dos peixes em detrimento do peso. Daí a balança ser desconsiderada no ato da venda, contudo, o pescador quando perguntado pela pesquisadora, respondeu o valor numérico referente ao peso aproximado de cada cambada que estava vendendo.

Nesta pesquisa, tivemos como sujeitos de pesquisa três pescadores que vendiam o produto de sua pesca artesanal para garantir seu sustento na região do Baixo Amazonas.

Tivemos como propósito identificar os sistemas de pesos e medidas convencionados pelas populações tradicionais e tivemos como resultado três unidades de medidas aceitas socialmente, naquele contexto, sendo duas – o prato e o litro para a venda de camarões e a outra – cambada para a venda de peixes.

Ao entrevistarmos os vendedores tivemos como resultado de que 100% deles conhecem o sistema padrão internacional de pesos e medidas, mas utilizam medidas alternativas por não disporem dos recursos necessários para a aquisição de balanças e, pelo fato de ser dificultoso transportar tais balanças até a praia em função do peso e do tamanho da mesma no momento da chegada das canoas (pequenas embarcações) com o produto da pesca artesanal.

Todos os pescadores afirmaram que os “fregueses”, compradores são pessoas da comunidade e por passarem das mesmas dificuldades financeiras que eles, aceitam e jamais questionam os sistemas alternativos por eles utilizados. Isto é, os compradores acatam esse sistema alternativo de medidas de tal sorte que já fazem parte de sua cultura e, portanto, não se sentem lesados.

De fato, presenciamos a compra dos produtos e os clientes se aproximam tão logo as canoas chegam à praia e fazem seus pedidos segundo os padrões locais de unidades de medidas.

Os camarões são vendidos cozidos por serem perecíveis evitando a perda do produto e os peixes são vendidos ‘in natura, porque de acordo com a fala dos pescadores demoram mais para estragar.

Os pescadores entrevistados afirmaram que não há geleiras nas proximidades e por isso não podem guardar o produto da pesca por muitas horas, a venda deve ser imediata.

As necessidades humanas promoveram a criação de um sistema internacional de medidas, entretanto, antigas unidades de medidas continuaram e continuam a ser utilizadas na atualidade, o que não implica em impeditivo para que o ser humano, na sua infinita sabedoria, na solução de seus problemas locais, imediatos continue a encontrar e produzir “novos” sistemas de pesos e medidas (para nós pesquisadores), revelando seu potencial criativo, seu pensamento lógico matemático.

A pesquisa realizada mostrou os sistemas de pesos e medidas alternativos utilizados por aqueles que sobrevivem da pesca, que têm no mar, nos rios, na Amazônia Azul sua sustentabilidade, sua fonte de riqueza.

A pesquisa nos faz refletir que o conhecimento matemático produzido e socialmente aceito e, portanto, convencionado deve estar a serviço da humanidade. O que a priori parecia ser uma ação arbitrária se revelou na capacidade de organização de um pensar matemático acordado socialmente na simplicidade dos ribeirinhos do Baixo Amazonas, no estado do Pará.

BIBLIOGRAFIA

EVES, Howard. Introdução à história da Matemática. Tradução: Hygino H. Domingues. Campinas, São Paulo: ed. UNICAMP, 2004.

ZUIN, Elenice de Souza Lodron. Dos antigos pesos e medidas ao sistema decimal. Belém,

O SOL - Japão


Quando se pensa em um país como o Japão, se pensa em tecnologia de ponta e nem de longe se imagina que numa cidade movimentada como Tókio se possa relaxar em tradicionais jardins japoneses. Foi em um cenário como esse, que parei para aproveitar a tranqüilidade do jardim imperial, de exuberante beleza, pertencente ao complexo do palácio imperial, coincidentemente no dia do aniversario do Imperador. Na oportunidade pude observar várias pessoas apressadas que passavam por ali, mas que paravam por alguns instantes em frente ao palácio para desejar “Vida Longa” ao imperador.O imperador por ocasião do pós-guerra assinou um documento no qual afirmava não ser uma divindade – filho do Sol. Entretanto, ao presenciar pessoas que se dirigiam à frente do palácio imperial para reverenciar ao imperador (que em momento algum apareceu) fiquei me perguntando para quem que ele não é uma divindade? Talvez seja somente para aqueles americanos que o obrigaram a assinar um documento abdicando de sua divindade num contexto de pós-guerra.

CULTURA INDÍGENA

O SOL

Para os indígenas da etnia Caiapó, Gavião (Parkatejê, Kyikatêjê, Arkrankyikatêjê) o Sol é um Deus e quando ficam doentes, acreditam que se caminharem na direção do sol ao nascer do dia, os primeiros raios de sol têm poder de cura das moléstias de seus corpos. Deste modo, a doença será levada pelo vento e se perderá na floresta. A aldeia tem a forma circular, bem como o sol e, a casa do cacique é construída considerando-se a posição do sol nascente para que os primeiros raios de sol possam iluminar a cabeça do líder para iluminar seus pensamentos. Ainda que missões religiosas tenham tentado impor uma outra religiosidade para os indígenas, o sol continua a ser divino. Não se pode deixar de acreditar na sua religiosidade assinando um pedaço de papel ou ouvindo missionários e é nessa resistência que está a beleza da espiritualidade humana.

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